terça-feira, 15 de outubro de 2013

Bullying: identificar e prevenir


Afeta quase 20% dos jovens portugueses de 13 anos. Alunos, pais, professores e funcionários têm de se envolver num plano contínuo de prevenção.

Quando a intimidação é intencional e frequente sobre alguém que não provoca, mas é mais vulnerável, física ou psicologicamente, fala-se de bullying. Dos insultos aos maus-tratos físicos, do isolamento ao recente ciberbullying, pelo uso do telemóvel e da Net: as formas saltaram os muros das escolas e dão nome à intimidação entre adultos, no trabalho ou pela Internet, por exemplo.
O bullying deixou de ser visto como “dores do crescimento”, normal entre miúdos, e ganhou a atenção dos psicólogos, profissionais e sociedade. O Governo discute medidas e a divulgação de casos é crescente, mas alguns especialistas apontam diminuição.
O projeto Convivência nas escolas, por exemplo, regista menos pedidos de ajuda do que no arranque da linha de apoio a docentes, em 2006, garante o coordenador João Grancho, em entrevista. Já Margarida Gaspar de Matos, psicóloga e investigadora na saúde dos jovens, destaca um grande impulso na área da saúde escolar, que abrange a prevenção da violência. Mas lamenta que não se tenha seguido uma evolução, nem avaliações das medidas.

 

SINAIS DE ALERTA

Identificar vítimas


Se o seu filho anda ansioso, deprimido e não tem vontade de ir às aulas, pode estar a ser intimidado pelos colegas. Fale com o professor.
Esteja atento aos sinais:
·                     medo ou recusa em ir à escola, náuseas ou vómitos antes de sair;
·                     criança angustiada, nervosa ou deprimida;
·                     baixa autoestima, choro e pesadelos frequentes;
·                     roupa e livros estragados, “perda” de objetos e dinheiro e lesões injustificadas;
·                     mudanças nos hábitos alimentares, como diminuição de apetite.

Vítimas, agressores e grupo: triângulo de poder calado


Uma educação superprotetora ou rígida está, muitas vezes, na base do perfil das vítimas. São jovens inseguros e com dificuldade em fazer amigos, mas nem sempre passivos. Quando contra-atacam ou tentam resistir à agressão, raramente conseguem melhor do que provocar a escalada da violência.
Já os agressores, ou quem intimida os colegas, aprendem em casa que a força e a humilhação são formas de lidar com os problemas e resistem mal à frustração. Provêm de famílias desestruturadas, com ambiente autoritário, e têm baixa autoestima e fraca supervisão pelos pais. Também a violência na televisão e nos jogos pode incentivar o comportamento.
O grupo de pares ou testemunhas podem encorajar o agressor e colaborar nas ameaças. Outros protegem a vítima ou afastam-se sem se comprometer. As testemunhas, por vezes, adotam comportamentos agressivos, ao perceber que estes não são sancionados.

 

PREVENÇÃO

Guia para pais


Não encoraje vinganças, denuncie aos responsáveis e articule esforços com a escola. Ajude a desenvolver a autoestima da criança.
Incentive a explorar uma atividade de que goste: uma modalidade desportiva, por exemplo. Se for vítima, é melhor passar mais tempo com quem vive uma boa relação e fazer novos amigos fora do ambiente escolar.
Ensine ao seu filho como se proteger: dizer “não” ao agressor sem mostrar medo, ignorá-lo e evitar oportunidades de intimidação, como ficar sozinho nos corredores e balneários.
O agressor, com comportamento antissocial, também precisa de ajuda. Os pais não devem partir para a ameaça, mas dar orientações e limites para controlar o comportamento e expressar a insatisfação, sem magoar os outros. Encoraje-o a pedir desculpa ao colega agredido, pessoalmente ou por escrito.
Em casa, aconselhe o seu filho a agir e denunciar os casos mais graves.
Participe ao máximo e mantenha o contacto próximo com os professores.

Escolas alerta


Maior supervisão pelos adultos, sinalização de espaços menos seguros e vigilância são ações a promover.
As políticas de tolerância zero e castigo, seguidas por muitas escolas, adiam o problema e podem provocar retaliações contra a vítima. Na maioria dos casos, não há uma estratégia contínua de prevenção que envolva alunos, professores, funcionários e pais. Atua-se só quando a situação é denunciada ou mais evidente, perante marcas de agressão física, por exemplo.

Ações de sensibilização


Professores e funcionários devem estar atentos aos sinais e acompanhar as relações. Mas o envolvimento dos alunos e pais, com debates, campanhas ou até peças de teatro, é a melhor maneira de redobrar a vigilância.


Não culpabilizar


É a melhor abordagem num caso de bullying. O professor pode falar com a vítima sobre as suas emoções, sem questionar diretamente quanto ao ocorrido, e conhecer os envolvidos.
Num segundo passo, pode chamar-se à conversa os envolvidos, mesmo que apenas observadores, num pequeno grupo. É decisivo explicar o problema e os sentimentos da vítima: pode ilustrar com um texto, imagem ou filme. Mas não discuta os detalhes do incidente nem culpe o grupo.
Peça contributos em ideias para ajudar a vítima. Reforce que todos podem evitar estes casos.


Postado por: Sónia Domingos Pedro